
A conhecida Feira de São Cristóvão, que possui o nome de Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, principal reduto de cultura nordestina no Rio de Janeiro, comemora hoje (13/12) os 100 anos de nascimento do Rei do Baião com exposição de fotos e agenda de shows. O diretor cultural da feira, Carlos Botelho, diz que tem motivos de sobra para homenagear Luiz Gonzaga.
“Quando eu me entendi como gente, escutava nas bocas de alto-falantes a música de Luiz Gonzaga. Menino muito pobre, eu sonhava um dia ser cantor. Aí surgiu ele cantando bonito, com a linguagem simples do sertanejo. Eu disse para mim mesmo: vou ser mais um Luiz Gonzaga na vida”, contou Botelho, conhecido na feira apenas como Marabá. O sonho o trouxe ao Rio com apenas 17 anos. Na feira, ele começou carregando caixas. Anos depois, em 1983, já como um dos coordenadores do espaço, ele teria a honra de anunciar o próprio ídolo em um show. “Tive o prazer de pegar o microfone e dizer: Agora com vocês, o Rei do Baião. Para mim, foi a glória. Nesta feira, a gente respira Luiz Gonzaga e batalha para não deixar a alma do Gonzagão escapar daqui”, lembra Marabá, que conta ter nascido em um barco, na divisa entre o Pará e o Maranhão.
Para ele, foi Luiz Gonzaga quem melhor conseguiu traduzir o país. “Ele cantava a música do Brasil, saída da terra, do chão, do sertanejo, do caboclo. Nos revelou um Nordeste cheio de melodia e de música”. Parceiro de Marabá na condução dos eventos, o potiguar Gilberto Teixeira, diretor de Marketing da feira, também se revela apaixonado por Gonzagão.
“A história de Luiz Gonzaga se confunde com a própria história da Feira de São Cristóvão. Quando ele chegou ao Rio, juntamente vieram vários nordestinos. Foi aí que começou a fundação da feira, na década de 1940”, contou Teixeira. “Aqui era a rodoviária dos nordestinos. Eles vinham para cá e já tinha uma pessoa que os recebia, para levá-los aos canteiros de obra”.
Entre os frequentadores da feira, destacam-se os turistas eventuais, que vêm de outras cidades, estados ou países, e os descendentes de nordestinos que buscam, principalmente, os shows de forró e as comidas típicas, para matar a saudade da terra natal. “Eu adoro a cultura nordestina, então, vim para conhecer de perto. O Gonzagão foi quem mais divulgou o Nordeste ”, disse Oswaldo Nolasco, que veio do município de Volta Redonda, enquanto tirava uma foto, juntamente com o filho Vinícius, ao lado da estátua de bronze do Rei do Baião, na entrada principal.
“O Luiz Gonzaga é como se fosse o pai da gente”, disse Gilberto Borges Ferreira, natural da Paraíba, que há 25 anos trabalha no local tirando fotografias dos turistas, que fazem pose montando o jegue Safira. O preço da foto é R$ 3, se for com a própria câmera, ou R$ 10 com a máquina dele. Ferreira começou a fotografar com uma polaroide e atualmente usa um equipamento digital.
Ao entrar na feira, que fica no Pavilhão de São Cristóvão, na zona norte da cidade, duas atrações chamam a atenção do visitante: a disputa de repentistas, na praça central, e a banca de cordéis, com dezenas de histórias diferentes. “O cordel [cita muito] o demônio, o pecado, é profundamente moralista e religioso. Tem um pé na fofoca e outro na tragédia. Os títulos que mais vendem são A Chegada de Lampião no Inferno, O Pavão Misterioso, O Cachorro dos Mortos e Juvenal e o Dragão”, contou o livreiro Leônidas Cardoso.
Apesar da maior parte das histórias ter sido escrita há muitas décadas, a literatura de cordel também retrata a atualidade, incluindo tragédias modernas e urbanas, como O Caso João Hélio, O Caso Isabela Nardoni e, mais recentemente, O Caso Bruno, sobre o ex-goleiro do Flamengo.
Por mês, cerca de 300 mil pessoas visitam a feira, principalmente, nos finais de semana. Eles vão em busca de forró, de comidas típicas e produtos dos estados nordestinos.
Mais informações sobre a Feira de São Cristóvão podem ser obtidas na página na internet: www.feiradesaocristovao.org.br.
Fonte: Agencia Brasil