
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagraram na manhã desta quinta-feira uma megaoperação com o objetivo de apreender armas e objetos usados nas execuções de candidatos e pessoas envolvidas em campanhas eleitorais, na Baixada Fluminense. A Justiça expediu 12 mandados de busca e apreensão em casas e galpões usados por suspeitos de participarem dos crimes em municípios da região, além de 12 pedidos de prisão temporária.
O chefe das Divisões de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Rivaldo Barbosa, garantiu que as mortes de três das 13 vítimas de homicídios a políticos na Baixada Fluminense, ocorridas em Duque de Caxias, não possuem qualquer vinculação com a política partidária e as eleições municipais de 2016, como foi sugerido inicialmente, e sim com a atuação de milicianos ,têm como motivação principal a disputa entre milicianos que atuam no furto de combustível da Petrobras e integrantes da “máfia do óleo” em Duque de Caxias.
Uma das vítimas foi o pré-candidato Sérgio da Conceição de Almeida Júnior, o Berem do Pilar, cuja morte ocorreu no dia de 2 de julho na porta de casa, no bairro do Pilar. Ele entrou no mesmo ramo de negócios da organização criminosa: furto de combustível da Reduc.
Segundo a DHBF, Denivaldo da Silva, assassinado quatro dias depois de Berem do Pilar, seria sócio do pré-candidato a vereador no novo empreendimento. A polícia descobriu, inclusive, que nos dois crimes foi usada a mesma pistola. A forma de atuação foi semelhante, com armas dos mesmos calibres. As duas execuções foram filmadas e comprovaram as semelhanças.
O outro crime relacionado às execuções de Denivaldo e Berem é o homicídio de Leandro de Xerém. Além de morar no mesmo distrito da primeira vítima, Leandro da Silva, que tinha fama de andar com paramilitares no local, ligados à Denivaldo. Eles se apresentavam como “justiceiros”. A polícia acredita que, pela brutalidade dos assassinatos, o propósito dos criminosos era o de servir de recado para outros que viessem a se aventurar nos negócios ilícitos da máfia dos combustíveis.
“Esses casos são os mais simbólicos e os mais violentos. As investigações mostram que as vítimas retiravam óleo e combustível de dutos da Petrobras na região, com lucro muito alto”, explicou Lages, acrescentando que as mortes ocorreram por divergências dentro deste grupo paramilitar.
Ainda de acordo com a polícia, os milicianos também atuavam praticando roubos e furtos de cargas na rodovia Washington Luiz, que corta Duque de Caxias. Parte de uma carga que havia sido roubada pelo grupo foi recuperada na operação.
As mortes aconteceram entre novembro de 2015 e agosto de 2016. Durante as investigações foi descoberta uma quadrilha que roubava combustível e derivados de petróleo, usando uma máquina com capacidade para retirar até 20 mil litros por hora e podia ser vendido por até R$ 0,40 o litro. O furto de óleo era realizado em dutos da Petrobras.
“Esse caso desmistifica essa história de que as mortes de pré-candidatos era uma questão política. Agora, temos um outro crime envolvido no caso. Vamos continuar investigando”, disse o delegado Giniton Lages, responsável pela Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
— A milícia é silenciosa e está arraigada no poder público. Os milicianos aprenderam a lição com as prisões, no passado, de integrantes do grupo mais antigo da Zona Oeste do Rio — disse Giniton, referindo-se aos irmãos, o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho e o ex-deputado estadual Natalino Guimarães Filho. — Por isso, essa facção criminosa não coloca mais a cara dela de frente na política. Ela apoia e fica ao lado do poder — explicou o delegado.
Alguns locais onde a polícia esteve, na manhã desta quinta-feira, eram terrenos que pertenciam às vítimas. Elas extraíam combustível de oleodutos que tinham como destino à Reduc. Segundo o diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, a motivação era a disputa entre as milícias pelo furto do combustível. No entanto, as vítimas dos homicídios ocorridos no município de Duque de Caxias tinham envolvimento com a política. A polícia encontrou três “bicas” oriundas de perfuração dos dutos da Petrobras, em dois terrenos, um de Leandro da Silva Lopes e outro de Denivaldo da Silva. Ambos assassinados em Duque de Caxias.
Outros quatro crimes, segundo os investigadores, são de autoria de traficantes, porque as vítimas, líderes comunitários, não permitiam bocas de fumo nos bairros onde viviam. Nas contas do titular da DHBF, Giniton Lages, apenas um homicídio teria como única razão a rivalidade política, no caso, o crime contra o vereador Oswaldo da Costa Silva (PDT), morto em 18 de agosto. Outros dois teriam cunho passional.

Policiais apreenderam fuzis, revólveres, munições e camisas iguais às usadas pela Polícia Civil na operação desta quinta, que buscou cumprir 22 mandados de busca e nove de prisão. “Nosso foco era a busca e apreensão de armas, confirmar a atividade de milícia e o furto de combustível”, afirmou o titular da DHBF.
Os policiais chegaram na manhã aos pontos de onde o óleo era desviado. Um deles ficava no bairro Parque Capivari, a 15 quilômetros da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc).
Imagens feitas pelos agentes mostram que mangueiras de borracha eram ligadas diretamente aos dutos, que ficam no meio do mato, em locais de difícil acesso.
— É dinheiro público que está saindo dessas bicas em jatos — disse Rivaldo referindo-se à pressão com que o material sai dos oleodutos .
“A Reduc tem uma malha de dutos espalhadas por Duque de Caxias. A partir disso, se identifica por onde ela está passando, aluga-se essa propriedade, de preferência rural, se fecha ali para controlar o fluxo de pessoas para evitar a fiscalização e faz-se uma fissura no duto. Aí se passa a extrair com a mangueira esse combustível, para ir para caminhões”, afirmou o delegado. “O que nós achamos em Caxias é efetivamente a mangueira, que é passada diretamente para o caminhão.”
Sobre o roubo de combustível, a Petrobras disse, em nota, que colaborou com a investigação. Segundo a empresa, não houve vazamento e o duto opera normalmente.
Lista dos 13 políticos mortos na Baixada entre novembro de 2015 e agosto de 2016:
Vereadores:
– Luciano nascimento Batista (Luciano DJ)
– Marco Aurélio Lopes
– Geraldo Cardoso Gerpe (Geraldão)
Pré-candidatos:
– Darley Gonçalves Braga
– Anderson Gomes Vieira
– Leandro da Silva Lopes
– Manoel Primo Lisboa
– Sérgio da Conceição de Almeida Junior(Berem do Pilar)
– Aga Lopes Pinheiro
– Oswaldo da Costa Silva
– Julio César Fraga Reis
Outros cargos:
– Nelson Gomes de Souza
– Denivaldo Meireles da Silva
Com os negócios diversificados, a milícia encontrou campo fértil na Baixada Fluminense. Além da cobrança de “taxas de proteção” e serviços como o do gatonet, de transporte alternativo e de fornecimento de gás, os milicianos exploram areais e vendem loteamentos.
Com a estratégia de não aparecerem na política, os milicianos financiam campanhas em troca de apoio e benefícios de políticos ao serem eleitos ou reeleitos. Com o fim das doações eleitorais por parte de empresas, o dinheiro ilícito é bem-vindo, pois não é declarado. Para não chamar atenção da fiscalização eleitoral, os candidatos que recorrem à essa prática, reduziram o número de cartazes e carros de som pelas cidades, mas usam as verbas “doadas” de outras formas. Na opinião da juíza Daniela Assumpção Barbosa, titular da 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias, que foi responsável pela fiscalização eleitoral em 2014, há suspeitas de compra de voto na Baixada Fluminense com o dinheiro sujo oriundo da milícia:
— Os candidatos que usam desse meio ilícito estão gastando, mas ninguém vê propaganda nas ruas. Isso nos leva a crer que eles estão investindo em outras formas para convencer os eleitores a votarem neles, como a compra de votos. É um tipo de prática que só pode ser feita quando se aliam às organizações criminosas. O dinheiro vem de caixa 2. Além disso, eles lutam contra o tempo. As campanhas foram liberadas em setembro, quando, antes, começavam em julho — explicou Daniela.