Leia aqui a íntegra da delação premiada de Delcídio do Amaral
O senador Delcídio Amaral (MS), em acordo de delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, disse que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria atuado no sentido de maquiar alguns dados obtidos no Banco Rural pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios – comissão da qual Delcídio foi presidente em 2005.
O ex-candidato tucano à Presidência da República teria sido beneficiado também pelo esquema conhecido como Lista de Furnas – esquema de corrupção e lavagem de dinheiro por meio do qual a estatal Furnas Centrais Elétricas teria abastecido a campanha de políticos do PSDB e do PFL (atual DEM) nas eleições de 2002.
No documento da delação, divulgado hoje (15) pelo STF, Delcídio, que pediu hoje desfiliação do PT, disse que, segundo um dos operadores dos pagamentos feitos no caso de Furnas, “um dos beneficiários dos valores ilícitos, sem dúvida, foi Aécio Neves, assim como o PP, através de José Janene”. Diz, ainda, que “a diretoria de Furnas anterior à atual [a penúltima] era muito ligada a Eduardo Cunha ” e que, por isso, acredita que ele tinha “comando absoluto” da estatal, recebendo inclusive “vantagens ilícitas” dela. Ex-deputado federal pelo PP do Paraná, morto em 2010, Janene foi condenado dentro da Ação Penal 470, o processo do mensalão.
Segundo Delcídio, a situação na empresa teria levado a presidenta Dilma Rousseff a fazer uma intervenção em Furnas “para cessar as práticas ilícitas”. De acordo com o senador, as mudanças feitas pela presidenta, que retirou aliados de Cunha da companhia, teria dado início ao enfrentamento entre Dilma e Cunha. No depoimento, Delcídio diz que as empresas envolvidas em Furnas são as mesmas que estão sendo investigadas no caso da Petrobras: Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Odebrecht.
Maquiagem
Durante as investigações feitas pela CPI dos Correios, Delcídio identificou algumas “maquiagens” em alguns “dados comprometedores” fornecidos pelo Banco Rural. Eram dados que, segundo ele, prejudicariam o ex-governador e o ex-vice-governador de Minas Gerais, Aécio Neves e Clésio Andrade – além da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e do publicitário Marcus Valério, pivô do mensalão, entre outros.
Delcídio disse compreender a existência dessa maquiagem pelo fato de que “a gênese do mensalão teria ocorrido em Minas Gerais”. No depoimento dado pelo senador sulmatogrossense, ele disse que ficou sabendo que os dados recebidos do banco estavam maquiados por meio de relatos feitos por Eduardo Paes, atual prefeito do Rio de Janeiro, e do próprio Aécio Neves, mas que isso acabou não sendo incluído no relatório final. Em nota, Paes negou as acusações de Delcídio.
Até então, Delcídio sentia apenas que o pedido de quebra dos sigilos do Banco Rural causava “certo incômodo” por parte do PSDB, em especial em Aécio. O ex-governador de Minas, disse Delcídio no depoimento, enviava emissários – um deles o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes – com o objetivo de fazer com que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados, sob a justificativa de que não haveria tempo hábil para preparar essas respostas.
Delcídio disse ter sido convencido da necessidade desses atrasos, achando que o pedido que fora feito era razoável, mas que recebeu com surpresa as respostas do banco. Isso o fez perceber que o tempo fora utilizado para maquiá-los, o que acabou sendo confirmado posteriormente em conversa com Aécio (uma delas no palácio do governo, em Belo Horizonte) e Paes. Apesar disso, Delcídio disse não ter tomado nenhuma providência.
Citando uma conversa que teve com José Janene, Delcídio disse ter sido informado de que Aécio Neves era também beneficiário “de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato”. Essa fundação seria sediada em Liechtenstein e que a operação financeira feita para beneficiá-lo teria sido estruturada “por um doleiro do Rio de Janeiro”.
(Fonte Agência Brasil)