A Defesa Civil do Rio de Janeiro interditou a fábrica de fantasias, em Ramos, na zona norte da cidade, após um incêndio de grandes proporções atingir o local na manhã desta quarta-feira (12). O subsecretário da Defesa Civil, Rodrigo Gonçalves, informou que o imóvel anexo à fábrica e utilizado na fabricação, também precisou ser interditado por risco de desabamento.
“As equipes da Defesa Civil também vistoriaram um prédio residencial anexo, de três andares. A gente vai liberar as nove unidades, interditando apenas uma área de serviço que pode ser afetada por conta desse incêndio”, informou Gonçalves.
A Maximus Confecções, fábrica de fantasias que pegou fogo, não tinha autorização do Corpo de Bombeiros para funcionar. Os bombeiros socorreram 21 pessoas, e ao menos 11 estão com um quadro grave de saúde. Não há mortos, nem desaparecidos.
“A edificação não possuía aprovação do Corpo de Bombeiros, não tinha a condição de segurança necessária para estar funcionando”, afirmou o coronel Luciano Sarmento, subcomandante-geral da corporação.
“Era uma edificação que possuía muitos materiais de alta combustão, como plásticos e papéis. A edificação não possui certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros e, por consequência, não tinha condições de segurança para o funcionamento”, disse Sarmento em entrevista no local do incêndio.
O Ministério Público do Trabalho (MPT), órgão que fiscaliza o cumprimento da legislação trabalhista, abriu um inquérito civil para investigar as condições de trabalho na confecção atingida por um incêndio no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (12).
A Maximus Confecções, em Ramos, zona norte da cidade, fabricava fantasias para escolas de samba do carnaval carioca. O Corpo de Bombeiros precisou socorrer 21 pessoas. Ao menos 11 foram internadas em estado grave. Não houve mortos.
A confecção não tinha autorização dos bombeiros para funcionar. A Polícia Civil investiga as causas do incêndio, e a Defesa Civil interditou o local.
Noites de trabalho
De acordo com funcionários e vizinhos do estabelecimento, a fábrica funcionava com turnos estendidos, e trabalhadores chegavam a dormir no endereço.
Uma das trabalhadoras que conseguiu deixar o prédio confirmou que parte da equipe virou a noite no trabalho. “A gente estava dormindo porque, como a gente está fazendo fantasia de carnaval, a gente foi dormir tarde”, disse Raiane.
Uma mulher que mora em um prédio vizinho à Maximus declarou que a produção era praticamente sem parar. “Eu vejo da minha janela, 24 horas por dia, meia-noite, 1h da manhã, 3h da manhã, 5h da manhã, eles estão ali trabalhando”, disse a jornalistas Marilúcia Blackman, que teve que sair de casa às pressas.
Inquérito
Ao divulgar a abertura do inquérito, o MPT contextualizou que relatos colhidos pela imprensa apontam a presença de adolescentes entre os trabalhadores e indícios de trabalho degradante.
De acordo com o procurador responsável pelo caso, Artur de Azambuja Rodrigues, “os fatos denunciados, em tese, configuram lesão a interesses coletivos e indisponíveis dos trabalhadores, tendo em vista a ocorrência de incêndio grave, com 21 trabalhadores feridos, que deve ser investigado, dentro das atribuições do Ministério Público do Trabalho”.
A Maximus Ramo Confecções de Vestuário Ltda será notificada para prestar esclarecimentos e terá que apresentar documentos como atos constitutivos ou estatuto social; Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR); Alvará de Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI); e Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ).
A empresa terá ainda que apresentar a relação com dados detalhados de empregados e informar as medidas adotadas para prestar a assistência a cada uma das vítimas do incêndio.
Explicações
As escolas de samba Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu concentravam a produção de fantasias na fábrica. Todas são da Série Ouro, principal grupo de acesso do carnaval carioca.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, informou que conversou com a Liga-RJ, que representa as escolas, e ficou decidido que os desfiles deste ano não terão escolas rebaixadas.
O inquérito do Ministério Público do Trabalho terá cobranças direcionadas às escolas de samba Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu, que deverão informar e comprovar as medidas adotadas para prestar a assistência aos trabalhadores vítimas do incêndio e apresentar os contratos mantidos com a empresa Maximus, assim como os documentos exigidos para a contratação.
Ao visitar o local do incêndio, o presidente da Império Serrano, Flávio França, foi questionado por jornalistas sobre as condições de funcionamento da confecção.
“A gente alugou o espaço. Existe uma empresa que faz esse serviço, a gente contrata os profissionais para poder desenvolver essas fantasias, mas a gente, nesse primeiro momento, está preocupado com a saúde de todos”, respondeu.
Críticas
O jornalista e pesquisador do carnaval carioca Fábio Fabato criticou as condições dos trabalhadores envolvidos com a preparação dos desfiles das escolas de samba.
“O carnaval carioca bate no peito como Maior Espetáculo da Terra, mas as engrenagens da festa ainda são amadoras. Muitos dos trabalhadores que fazem a festa, boa parte invisibilizada, chega a trabalhar de modo análogo à escravidão em reta final de preparativos”, denunciou à Agência Brasil.
“Segurança social e carteira de trabalho para todos ainda são sonhos em ambientes que, em alguns casos, apresentam condições insalubres”, disse.
Os desfiles da Série Ouro, principal grupo de acesso do carnaval carioca, não terão as escolas de samba rebaixadas em 2025. A afirmação é do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, após o incêndio, nesta quarta-feira (12), em uma confecção que produzia fantasias para diversas agremiações.
Ao menos duas escolas confirmaram que toda a produção para o carnaval deste ano estava na fábrica atingida pelo fogo.
Paes fez uma publicação nas redes sociais após ter conversado com o presidente da Liga-RJ, Hugo Junior, que representa as escolas do grupo de acesso.
“Já tomamos a decisão de que, independentemente de qualquer coisa, as escolas não serão rebaixadas no carnaval deste ano. Havendo possibilidade de desfilar, as três escolas afetadas pelo fogo serão consideradas hors-concours”, escreveu o prefeito.
Ele manifestou ainda solidariedade às agremiações Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu, principais prejudicadas pelo incêndio.
Não será a primeira vez que um desfile de carnaval não terá escolas rebaixados por causa de incêndio. Em 2011, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) decidiu não julgar Portela, União da Ilha e Acadêmicos do Grande Rio, por causa de um incêndio na Cidade do Samba, espaço que reúne barracões, a um mês para o carnaval daquele ano.
Incêndio em confecção
O fogo começou cedo, na manhã desta quarta-feira, na Maximus Confecções, em Ramos, zona norte do Rio de Janeiro. De acordo com o Corpo de Bombeiros, 21 pessoas precisaram ser socorridas. Ao menos dez têm o quadro de saúde grave.
De acordo com a corporação, a fábrica não tinha autorização para funcionamento. A Polícia Civil investiga a causa do incêndio.
Fantasias
Dedido à proximidade do carnaval, a fábrica funcionava com turno estendido, e alguns funcionários dormiam no local para acelerar a produção.
De acordo com o presidente da Liga-RJ, ao menos três escolas tiveram “perda total”.
“É um triste dia para o carnaval do Rio de Janeiro”, lamentou Hugo Junior. Segundo o presidente da Liga-RJ, faltando 16 dias para o desfile da Série Ouro, é “muito pouco provável” qualquer forma de recuperação do material.
Ele explicou que, além de fábrica de fantasia, algumas escolas utilizavam o local como ateliê. “A Maximus é uma empresa que fornece o material para a cadeia produtiva do carnaval do Rio de Janeiro”.
A Liga-RJ fará uma reunião com os presidentes de todas as agremiações para tratar como será a disputa no grupo de acesso este ano. “Para que nenhuma escola sofrida hoje possa ser penalizada”.
Império Serrano
“É o sonho de um ano de trabalho que acaba”, se emocionou o superintendente-geral do Império Serrano, Paulo Santi, escola que fechará a noite de desfiles no sábado de carnaval, 1º de março.
“Entraríamos para disputar o título”, disse. “Mas o Império é forte, o Império vai para a avenida”. Segundo ele, a agremiação estava “praticamente com o carnaval pronto”
Questionado sobre as condições de funcionamento da confecção, o presidente da Império Serrano, Flávio França, disse que a produção é terceirizada.
“A gente alugou o espaço. Existe uma empresa que faz esse serviço, a gente contrata os profissionais para poder desenvolver essas fantasias, mas a gente, nesse primeiro momento, está preocupado com a saúde de todos”.
O presidente da Unidos da Ponte, Tião Pinheiro, considerou bem-vinda a decisão da Liga-RJ de não rebaixar nenhuma escola esse ano e disse que a preocupação neste momento é a vida e saúde das vítimas. “Depois disso vamos pensar em fantasias, em roupas, em ateliê. A decisão de não rebaixar as escolas me parece muito justa e sensata neste momento”, disse, por meio de vídeo, em suas redes sociais.
Outras escolas
Entre as demais escolas de samba que tiveram produção afetada, figuram a Acadêmicos da Rocinha, da Série Prata, e Arranco do Engenho de Dentro, União da Ilha e Porto da Pedra, as três da Série Ouro.
“Havia duas alas, placas e tecidos da escola sendo produzidos no local, alguns deles programados para serem entregues na data de hoje”, informou a Porto da Pedra.
“Nossa agremiação, que já passou por momento trágico como este em 2011, se solidariza com as coirmãs afetadas neste episódio”, disse a Ilha do Governador.
Escolas de samba que não foram atingidas, como Beija-Flor, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos de Padre Miguel e Viradouro, todas do Grupo Especial, publicaram mensagens de solidariedade.
“Desejamos pronta recuperação aos funcionários feridos e prestamos nossa solidariedade às coirmãs afetadas.”, registrou a Viradouro, campeã de 2024.
Fonte Agência Brasil