
Em um intervalo de apenas 24 horas, a Polícia Civil do Rio matou ao menos 17 suspeitos de integrar o Bonde do Ecko, considerada uma das maiores milícias do país, em duas operações em municípios da Baixada Fluminense.
A última delas ocorreu na noite desta quinta-feira (15), em Itaguaí (RJ), deixando 12 suspeitos mortos.
A Policia Civil identificou os 12 milicianos que foram mortos na noite de quinta-feira, em Itaguaí, durante ação integrada entre a própria Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal. Nas últimas horas, uma força conjunta entre equipes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), peritos legistas e papiloscopistas da Polícia Civil permitiu que todos fossem identificados.
Entre eles, está Carlos Eduardo Benevides Gomes; vulgo Cabo Bené ou Benevides. De acordo com a Polícia Civil, Benevides era um criminoso de altíssima periculosidade e de perfil extremamente violento, atuando como líder da Milícia na cidade de Itaguaí e na região limítrofe.
“Trabalhou como policial militar e foi excluído das fileiras da PM por envolvimento com a Milícia de Campo Grande. Apontado como braço direito do miliciano ECKO, foi alvo de grandes operações da Polícia Civil, mas continuava foragido. Tem envolvimento com um cemitério clandestino encontrado em Itaguaí e pelo menos 6 homicídios. Era criminoso procurado pela Polícia e possuía mais de dez mandados de prisão preventiva pendentes e dezenas de anotações criminais por diversos crimes como homicídios, roubo, extorsão, formação de quadrilha, porte ilegal de arma de fogo e organização criminosa”, diz a corporação em nota.
Outro nome da lista é o de Emerson Benedito da Silva, vulgo Macumba. Segundo a Polícia Civil, Silva liderava a organização criminosa que atua em Itaguaí e região ao lado de Benevides, possuindo 3 três procedimentos policiais, por Porte Ilegal de arma, Extorsão e Organização criminosa. “Criminoso procurado havendo em seu desfavor um mandado de prisão pendente”, diz a corporação.
Magnun Cirilo da Silva, vulgo MG ou Magnun, era, de acordo com a Polícia Civil, comparsa de Benevides e um dos seus homens de confiança. “Possuía oito anotações criminais, dos mais variados tipos, como extorsão, roubo majorado, porte ilegal de arma, organização criminosa, lesão corporal”, diz a Polícia, acrescentando que Magnun era procurado com sete mandados de prisão pendentes.
Ainda no grupo tinha Wagner Eduardo da Cruz. Criminoso de alta periculosidade, Cruz possuía, de acordo com a corporação, três anotações criminais, tanto por crime de extorsão como por crime de organização criminosa, sendo alvo de outras investigações da Polícia Civil. Ex-presidiário, saiu do sistema prisional há pouco tempo.
Somam à lista: Paulo Cesar Cassimiro Duarte (egresso do Sistema Penitenciário e possuía anotação criminal por lesão corporal), Maicon Rodrigo da Costa (possuía duas anotações criminais, sendo uma por roubo majorado), Rodrigo Faustino Gamma (ex-presidiário e possuía duas anotações criminais por extorsão, receptação e adulteração de sinal identificador de veículo) e Walace dos Santos Lopes (também era egresso do sistema penitenciário e possuía igualmente anotações criminais por lesão corporal).
Já Luiz Felipe Pereira Bertoldo tinha passagens na polícia por lesão corporal e receptação. E Otavio Victor Schwantes de Araujo respondeu por atos infracionais na qualidade de adolescente infrator.
Confira a lista completa:
Carlos Eduardo Benevides Gomes, vulgo Cabo Bené ou Benevides;
Magnun Cirilo da Silva, vulgo MG ou Magnun;
Emerson Benedito da Silva, vulgo Macumba;
Wagner Eduardo da Cruz;
Paulo Cesar Cassimiro Duarte;
Maicon Rodrigo da Costa;
Rodrigo Faustino Gamma;
Walace dos Santos Lopes;
Luiz Felipe Pereira Bertoldo;
João Vitor Leitão Rangel;
Otavio Victor Schwantes de Araujo;
Mateus dos Santos Silva.Polícia
O grupo de criminosos teve um comboio interceptado em Itaguaí e trocou tiros com os agentes, segundo a polícia.
Num vídeo já em posse dos investigadores, um ex-integrante da quadrilha revelou ao Ministério Público do Rio que, em setembro de 2018, Bené havia participado do assassinato de dois membros do próprio grupo criminoso.
A Promotoria denunciou 44 suspeitos de integrar o grupo pelo crime de organização criminosa. Cinco meses depois, o corpo da testemunha foi encontrado no porta-malas de um carro com marcas de tiro.
Após o depoimento de André Vitor de Souza Corrêa, ele foi jurado de morte pela quadrilha, segundo o Ministério Público.
Segundo o relato, Wellington da Silva Braga, o Ecko, o chefão da milícia, mandou Bené matar dois integrantes da organização criminosa por supostamente usarem o nome dele para extorquir dinheiro de moradores em um condomínio do programa federal “Minha Casa Minha Vida”.
“O Bené já veio dando a explicação, dizendo que era parada de homem. Disse que o Ecko mandou resolver. Só que o Paulinho [apelido de uma das vítimas] ainda estava vivo. E gritou assim: ‘Pelos meus filhos, não fui eu que meti a mão’. O Bené veio com a AK-47 e deu um tiro na cara dele. Depois, mandou a gente botar os corpos na caçamba do carro. Aí, fomos para o cemitério clandestino”, disse André Corrêa, em depoimento gravado.
“O Bené deu uns cinco tiros nele. O sangue espirrou na minha cara”, completou.
Bené chefiava uma espécie de “franquia” do bonde do Ecko em Itaguaí, um dos municípios da Baixada Fluminense, segundo informações obtidas com a Polícia Civil e pelo MP-RJ.
Tandera, também citado pela testemunha encontrada morta depois de depor, é apontado pelas autoridades como o segundo homem na hierarquia do grupo e responsável direto pela criação dessas franquias na região.
Segundo fontes ligadas à polícia, ele estava com o grupo localizado pela Polícia Civil na última quarta (14), em uma operação que causou a morte de outros cinco suspeitos de integrar a organização criminosa em uma troca de tiros numa região conhecida como km 32, em Nova Iguaçu (RJ), também na Baixada Fluminense. Mas conseguiu escapar e segue foragido.
GRUPO MONITORADO
Na noite desta quinta, uma ação em conjunto entre a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e a Polícia Civil do Rio interceptou um comboio de suspeitos de integrar a milícia de Itaguaí.
A movimentação do grupo estava sendo monitorada há duas semanas pelo serviço de inteligência de uma força-tarefa para coibir a interferência de organizações criminosas nas eleições deste ano.
Segundo a polícia, os criminosos abriram fogo ao perceberem a aproximação dos agentes, dando início a um confronto que contou com a participação de agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil).
Um dos agentes foi atingido, mas não se feriu com gravidade porque o tiro atingiu o colete à prova de balas.
Além de Bené, Émerson Benedito da Silva, conhecido como Macumba, também teria sido morto. Ele é apontado pelas autoridades como um dos homens de confiança de Bené. Os outros dez suspeitos mortos ainda não foram identificados.
Após o confronto, a polícia apreendeu ao menos oito fuzis, pistolas, munições, carregadores, aparelhos de comunicação e os quatro carros roubados ou clonados que faziam parte do comboio. Os agentes verificaram, ainda, que os suspeitos usavam fardamento militar, coturnos e coletes.