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Wilson Witzel e Washington Reis fizeram acordo de R$ 100 milhões

Um acordo milionário envolvendo o governo do Rio de Janeiro e a prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, está na mira dos investigadores. Há suspeita de que o prefeito da cidade, Washington Reis (MDB), tenha participação direta no esquema de corrupção que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), era encabeçado pelo governador Wilson Witzel.

Washington Reis e o irmão, Rosenverg Reis, que é o líder do MDB na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) estavam entre investigados na Operação Tris in Idem, que culminou no afastamento de Witzel do cargo nesta sexta-feira (28).

A Procuradoria-Geral da República (PGR) chegou a pedir um mandado de busca e apreensão contra os dois, mas o pedido não foi concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

 

Em delação premiada, o ex-secretário de saúde do RJ, Edmar Santos, afirmou que o governador Wilson Witzel fez acordo direto com o prefeito de Caxias para o repasse de R$ 100 milhões por meio da sistemática de transferências fundo a fundo, ou seja, entre o fundo estadual e o fundo municipal de Saúde.

Em 2020, o fundo municipal de Saúde de Caxias recebeu mais de R$ 41 milhões do estado, relacionado a dívidas dos anos anteriores – valor superior ao repasso para as prefeituras da própria capital e de São Gonçalo, na Região Metropolitana, que têm populações maiores que a cidade da Baixada.

Segundo o MPF, Edmar Santos deu ainda outros exemplos da relação suspeita entre o governo de Witzel e a Prefeitura de Caxias. O ex-secretário disse que foi informado, em novembro do ano passado, por Edson Torres, operador financeiro do Pastor Everaldo, de que deveriam ser repassados R$ 50 milhões ao município de Caxias a pedido do governador em atenção a um acordo dele com o prefeito Washington Reis.

Santos afirmou ainda que, em uma reunião realizada em dezembro, Witzel pediu que os R$ 50 milhões restantes fossem repassados a Caxias e que esse pedido deixou claro para ele que o governador estava ciente das ações de Edson Torres.

O ex-secretário narrou ainda aos procuradores que, apesar da determinação do governador, esse recurso não foi repassado de imediato por um pedido de Edson Torres, porque o município não teria honrado compromissos de pagamento de vantagens indevidas ao grupo.

Por isso, segundo Edmar, o deputado estadual Rosenverg Reis, irmão do prefeito, teria começado a lhe fazer cobranças. Destacou que, quando os representantes do governo de Caxias decidiram pagar ao grupo de Edson Torres pediram que os valores fossem buscados junto ao empresário Mário Peixoto, o que demonstraria que havia uma ligação muito estreita entre o município e seus representantes.

Santos ressaltou, também, que a situação  agravou ainda mais as tensões entre os grupos de Mario Peixoto e do Pastor Everaldo.

O prefeito Washington Reis negou que a Polícia Federal tenha cumprido mandados de busca e apreensão contra ele. Já a corporação afirmou que todos os 83 mandados expedidos pelo STJ foram cumpridos.

Mais de meio milhão de reais em propina

O governador Wilson Witzel e a primeira-dama, Helena Witzel, foram denunciados quatro vezes cada um pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Os procuradores afirmam que contratos com o escritório de advocacia da primeira-dama serviriam para ocultar o pagamento de propinas ao governador. Segundo o MPF, em dez meses, o escritório recebeu mais de R$ 554 mil por serviços nunca prestados.

O dinheiro partiu de quatro empresas ligadas a fornecedores do estado que teriam sido beneficiadas pelo governador.

Segundo os procuradores, foi possível detectar que Wilson Witzel recebeu R$ 74 mil diretamente do escritório da esposa.

As quatro empresas seriam ligadas ao empresário Mario Peixoto e ao ex-prefeito de Volta Redonda e amigo do governador, Gothardo Neto. Os dois estão presos.

A operação que culminou no afastamento de Witzel do cargo foi autorizada pelo ministro do STJ, Benedito Gonçalves. Ela foi batizada de Tris in Idem, uma referência ao fato de se tratar do terceiro governador do estado que se utiliza de esquemas ilícitos semelhantes para obter vantagens indevidas – os outros dois foram Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

O ministro negou o pedido de prisão de Witzel feito pela Procuradoria-Geral da República porque entendeu ser suficiente o afastamento do cargo para interromper as supostas atividades de corrupção e lavagem de dinheiro.

A operação cumpriu 16 mandados de prisão e 83 de busca e apreensão.

Mesmo afastado pelo STJ, Witzel pode continuar morando com a família no Palácio das Laranjeiras, a residência oficial do governador. Mas, nos próximos seis meses não terá mais acesso ao Palácio Guanabara, que é a sede do governo e a nenhum outro prédio do estado. Também não poderá se comunicar com funcionários do governo.