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O TAMANHO DA TRAGÉDIA EM BARCARENA

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Divulgado no dia 2 de abril de 2018, o estudo realizado nos fios de cabelo de 90 moradores de 14 comunidades do polo industrial e da sede de Barcarena, nordeste do Pará. O estudo apontou a presença de pelo menos 20 substâncias tóxicas, sendo três deles cancerígenos como o chumbo, cromo e níquel.
Entre a população analisada, uma criança apresentou nível de alumínio 100 vezes acima do controle; cromo 4 vezes acima; manganês 3 vezes acima; e níquel 2 vezes. A mãe, que autorizou a análise, disse que o menino apresenta problemas na pele, coceiras, além de dores de cabeça constantes.
Novo relatório do Instituto Evandro Chagas (IEC/SVS/MS) divulgado no  dia  28 de março de 2018, confirmou os riscos ambientais próximos à operação da mineradora norueguesa Hydro Alunorte em Barcarena, Região Metropolitana de Belém (RMB) mostra uma realidade assustadora para a população da área. Metais tóxicos como o chumbo, urânio, cobalto e manganês foram identificados em quantidades bem acima do permitido.

De acordo com o IEC, no documento intitulado “Avaliação Preliminar dos Impactos Ambientais Referente ao Transbordo e Lançamentos Irregulares de Efluentes de Lama Vermelha na Cidade de Barcarena, estado do Pará” há informações com o resultado das análises de amostras de águas coletadas no Rio Murucupi e pontos do Rio Pará, Arienga, Arapiranga, Guajará do Beja, Igarapés Curuperê, Dendê e um igarapé que é afluente do Tauá, além de amostras de lama coletadas dentro da empresa em todo o sistema de efluentes e amostra coletada na estrada PA-481, após o tombamento de um caminhão no dia 22 de março de 2018 .
O argumento da Hydro Alunorte de que o processo de beneficiamento da bauxita para produção de alumina não contamina o meio ambiente no município de Barcarena, cai por terra definitivamente. Uma fonte interna da empresa norueguesa confirmou  que a presença de chumbo e outros metais pesados nos córregos e rios da região e que contaminam também o Rio Pará, que banha Belém, acontece porque a mineradora mistura cinzas de carvão coque e xisto betuminoso (altamente poluentes) de suas seis caldeiras em atividade aos rejeitos de bauxita na Estação de Tratamento de Efluentes DRS1, a mais antiga em operação.

“Esta ação da empresa de misturar cinzas do coque é antiga e recorrente. Depois de misturada à lama vermelha, as cinzas de coque são imperceptíveis, mas sua ação poluidora e tóxica é perigosa e a empresa tem conhecimento disso”, garantiu a fonte interna da Hydro. No último dia 22 de fevereiro, o Instituto Evandro Chagas (IEC) coletou amostras de água em Barcarena e o resultado apresentou números elevados de diversas substâncias nocivas, como chumbo, fósforo total, alumínio, nitrato e sódio, além da elevação da alcalinidade da águas, atestando uma situação de dano ambiental ao ecossistema local, especialmente no rio Murucupi.

À época, a Alunorte descartou qualquer contaminação proveniente de sua planta industrial. Mas reviu seu posicionamento quando, no último domingo, 18, o próprio o presidente e CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzæg, confessou que mineradora polui o Rio Pará.

De acordo com a fonte, esta mistura de cinzas tóxicas e rejeito de bauxita acontece porque a empresa deveria ter um local e mecanismos específicos para fazer o tratamento do rejeito do carvão coque. Para tratar este tipo de resíduo tóxico originado das suas caldeiras, a Hydro Alunorte precisaria ter também uma licença da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), documento que ela não tem. “Como precisava obrigatoriamente descartar este resíduo, pois não poderia deixá-lo exposto, a mineradora optou intencionalmente em misturá-la aos resíduos de bauxita, assumindo, assim, o risco de contaminar o meio ambiente”, disse a fonte.

A fonte interna da Hydro chama atenção de que a contaminação das águas em Barcarena pode ir bem além do Rio Murucupi, rio mais próximo da planta industrial da Hydro Alunorte, como demonstrou a primeira pesquisa IEC. “Parte desta lama tóxica vem sendo despejada há tempos nos rios da região”. A fonte acredita que uma pesquisa mais aprofundada possa demonstrar futuramente que metais pesados devem ser encontrados em praias mais distantes, como Beja e Vila dos Cabanos. “O maior temor da Hydro Alunorte hoje é saber que a população impactada pela contaminação é bem maior do que as comunidades existentes próximos à planta da fábrica em Barcarena”, argumenta a fonte.

No dia 18 de março, o presidente e CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzæg, comunicou em nota oficial que a empresa norueguesa, de fato, vem contaminando o rio Pará com resíduos não tratados do beneficiamento de bauxita em sua planta industrial em Barcarena.

A confissão do líder mundial da empresa de mineração aconteceu depois que   que foi denunciado no dia 11 de março que a Hydro Alunorte despeja, através de um canal antigo, resíduos não tratados da sua refinaria de bauxita no rio Pará, que banha Belém

A nota também retificou que o descarte de resíduos nada tem a ver com os excessos de chuvas na região, conforme informou a empresa à época da publicação da reportagem.

Na nota, divulgada pela assessoria de comunicação, Svein Richard Brandtzæg diz que, “em nome da companhia, pessoalmente peço desculpas às comunidades, às autoridades e à sociedade. Isso ressalta a importância de uma revisão completa da Alunorte”.