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Pescador de Quissamã cria central de energia eólica

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Na cidade de Quissamã, Norte do Estado do Rio, uma antiga comunidade de pescadores artesanais vem demonstrando que a preocupação com o meio ambiente pode estar associada a melhorias na qualidade do trabalho. Por duas vezes, a comunidade pesqueira da microbacia Barra do Furado recebeu incentivo para melhoria no material de pesca artesanal e agora se prepara para uma próxima etapa de investimentos. Enquanto o defeso do peixe de água doce não termina, no fim de fevereiro eles se preparam reformando o material. Mas o trabalho vai além de ajustes em barcos e redes.

Há um ano, um pescador autodidata mantém uma estação de captação de energia eólica, que alimenta uma cabine para comunicação com os colegas em alto mar. Como não depende de eletricidade, a engenhoca torna-se à prova de tempestades. A preocupação com os amigos e os filhos deles fizeram o pescador Vilton Luiz Silva dos Santos, de 45 anos, montar por conta própria uma cabine de comunicação alternativa para que toda a comunidade tivesse notícias do mar, principalmente em dias e noites de temporais.

A microbacia concentra muitos pescadores e a cabine oficial da colônia é mantida através de energia elétrica que, em dias de temporal, sempre oscila ou tem o abastecimento interrompido. “Quando tem temporal ou falta energia, todos correm para cá. É um alívio ter um canal seguro para falar com quem está em alto mar. Só quem já esteve por lá ou tem filhos e amigos em situação parecida é que sabe como ficamos preocupados. Essa cabine é à prova de apagão”, disse Vilton, considerado uma espécie de “professor Pardal” pelos vizinhos e colegas. Além de servir a comunidade, ele utiliza a captação de energia eólica para carregar baterias de carros, máquinas e barcos e, com isso, aumentar a renda.

Vilton explicou que ventos acima de 20 quilômetros por hora, muito comuns naquela área, geram energia suficiente para o funcionamento da cabine. “É uma segurança essa central dele. Ficamos sempre preocupados com quem está no mar e, depois da invenção do Vilton, nunca mais perdemos o contato com ninguém”, diz o também pescador Evaldo da Silva, de 68 anos, líder de uma família de sete irmãos pescadores.

A mesma preocupação com os amigos, o pescador inventor mantém com o meio ambiente. Há 20 anos, ele toma conta de um mangue que viu nascer e crescer em frente sua casa, no Canal das Flechas. “Nasceu uma plantinha, depois foram crescendo outras e acabei conseguindo ajuda dos órgãos ambientais para proteger o espaço. Hoje ninguém mexe no mangue. Vigio e recolho o lixo que acaba chegando pela água. Explico para as crianças que o mangue é o berçário do mar e isso é muito importante”, defendeu.

“Quando apresentamos o Rio Rural em Barra do Furado, parecia ser um trabalho muito difícil, mas eles nos surpreenderam. São engajados social e ambientalmente. Na verdade, todos são muito amigos uns dos outros há vários anos e isso reflete na organização comunitária e no ambiente a ser preservado para os descendentes”, analisou o técnico agrícola da Emater-Rio, Fábio Oliveira, que executa o Rio Rural, programa da secretaria estadual de Agricultura.

Além de proporcionar uma convivência mais fácil, o engajamento social fez a microbacia obter, em 2013, R$ 1,5 milhão em financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pesca (Pronaf Pesca). “Os pescadores buscam financiamento para melhoria dos barcos, compra de equipamentos maiores e melhores. Eles querem melhorar as condições de trabalho e sabem buscar os meios para isso”, explicou Fábio.

Fonte: G1